quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Em busca de mim


Uma viagem começa ainda que sem destino, pelo primeiro passo. Estou começando uma nova, uma aventura praticamente para dentro de mim, em busca do meu “EU”. Há tempos e venho me sentindo um tanto “oca”... Não me acho me disperso em pensamentos próprios do que seria eu, mas não tenho certeza de ser mesmo isso. Às vezes, sinto como se alguém tivesse levado minha alma para algum canto na penumbra da existência. Tão escondido que não acho. Fica então meu corpo perambulando pelo mundo, buscando minha alma... O péssimo nisso tudo é que acabo me ausentando de sentimentos e interferindo na vida de muitos, muitas vezes de modo negativo. Não sei como, gostam da casca abandonada dessa arvore velha, oca e praticamente morta... Sou como o casulo abandonado pela bela borboleta; e há quem queira guardar o casulo, o achando maravilhas... Preciso arrastar essa casca morta em busca das belas asas coloridas. Espero encontrá-la em breve, borboleta, alma fugida de mim...






 Indo à Curitiba




Agora estou começando uma jornada. Não sei o que mudará, mas não custa tentar. Levo um livro que eu mesma escrevi um diário de bordo, celular, duas câmeras e tralhas. É... Carapicuíba é feio... E as nuvens carregadas me trazem preocupações. Minha janela é enorme, a paisagem muito diferente. Há paisagens, casas na mata que tanto me encantam que me esqueço de fotografar. Achava o nome COPACO estranho para um bairro até que vi numa placa “Despésito”. Aff... Muitos pinheiros e piscinas enlameadas pela chuva de ontem à noite. Árvores caídas como se um tufão as tivesse arrancado. Ou quem sabe um gigante as tenha pisado.
Conforme a viagem avança, o frio também aumenta. A cada km, um pouco mais de mim,um pouco mais de solidão...
Coisas se passam tão inusitadas que mal consigo fotografar. Uma fina chuva se apresenta na janela e as gotas espalhadas no vidro, quase me cumprimentam. Flores por todos os lados, manacás gigantes por todo o caminho... Hortênsias...
Hoje, exatamente, deixei a ousadia tomar conta de mim e me guiar ao por o pé na estrada. Estou bem assim. Sendo eu. (Juquitiba é muito sinistro visto daqui)
Acidente a vista... Transito zero pra não me esquecer de Sampa. Serra do Cafezal. È incrível, mas tem cheiro de café sim. Deus esta em todas as partes. A cada 200 metros, uma igreja. O diabo também esta. Entre cada duas igrejas, um boteco... Aqui ainda é 011 o DDD. Meus companheiros de viagem, no banco ao lado: Um bom livro que escrevi, meu tênis e meu cel que é ótimo quando esta desligado... Às vezes minha janela não me mostra nada. Às vezes mostra até demais. Muitos caminhões na pista... Por falar nisso, vejo caminhoneiros cada vez mais jovens...
A paisagem se parece comigo. Árvores velhas, cascas, casinhas, casarões e galpões abandonados, coisas passando... Alguns passageiros, colegas de destino, parecem impacientes enquanto duas garotinhas pacientemente adormecem... Consigo pensar muito aqui. Família, estudo, trabalho, escritos...
O frio da noite que se aproxima esquenta minha alma. Momento complexo... A paisagem da minha janela não muda a uns quinze minutos. É estranho viajar sozinha quase sem rumo, mas não deixa de ser fascinante... São muitas horas de viagem. No guichê da Itapemirim, disseram que seriam 6hs. A solidão me consome com o passar do dia. Sinto estar cada vez mais perto de mim, em silêncio.
O bom de o ônibus estar praticamente parado na Serra, é que posso fotografar melhor. Minha janela esta bem limpinha por fora e não interfere nas imagens.
A neblina na Serra me permite ver o que há e está encantado sob ela. Pude reconhecer a magia viva entre as folhas e galhos. Sim, falaram comigo de alma pra alma, então a neblina desceu sobre tudo e a magia dispersou-se mata adentro...
19h54min de uma noite chuvosa, fria e mágica. Há necessidade do alimento, mas se alimentar não se torna necessário.
20hs. Após cerca de 1 km sem sinal, eis meu celular. Aproveito para um ultimo pronunciamento à família antes da chegada ao meu destino. Ainda não sabem onde estou e menos ainda para onde estou indo.
21h29min e uma última parada antes da chegada. Canseira misturada com ansiedade. Delicia isso. Estou inevitavelmente bem apesar da chuva e do breu da estrada. Tudo me esta muito interessante...
Depois de meia hora de parada, meio a chuva, sigo minha jornada. Espero poder fazer belas fotos amanhã dessa cidade que pelo menos nas fotos sempre me pareceu linda e “fotografável”... Vejo a lua refletida em águas que não consigo enxergar daqui
00h54min e desembarco de uma viagem que me parecia quase sem fim. Chegada, um tour noturno pelo centro, algumas fotos agora, outras pela manhã... 

EM breve o segundo dia e a volta....




Segundo dia...





Bom, muito cansada, Acordei cedo, levantei tarde... Minha caneta falha... Consigo uma outra enfim... Dia lindo em Curitiba, na TV, meteorologistas tentando entender como é possível um dia tão lindo depois de dias de chuva. E quando digo lindo, é lindo mesmo. Pessoas com sotaque diferente do meu. Passei a noite em um lugar no centro. Me comuniquei com uma ou outra pessoa da cidade. Me trataram normal e não como em Aruja, como se eu fosse de outro planeta.. me alimentei bem basicamente. No mercado, era dia 13. No caixa havia esses painéis eletrônicos indicando em que caixa eu devia ir. Na minha vez, chamou no 13, porém, ele não esta livre coisa nenhuma, e em seguida, ele insistia só no numero 13 repetidas vezes, até que a moça do outro caixa precisou ir desligá-lo. Estranho? Com certeza, muito... Almocei na beira do lago numa espécie de parque, um passeio publico, sei La. De onde eu estava via umas arvores cheias de macaquinhos... Micos... La, também visitei um mini zoo... E pensei em como o ser humano se sentiria sendo enjaulado para fica exposto. Lembrei do Big bosta, e me dei conta que o se não é de fato humano pra pensar nessas coisas. Atravessei ruas, avenidas, passagens de pedestres, ciclovias, um caminho beira-rio,onde tinha a ponte dos punks... Sentei na grama de um parque muito bonito. De La dava pra ver um bar e na frente dele passou um cara tocando flauta enquanto andava de bicicleta, feliz da vida. Parecia cena de filme... Depois, conheci o bosque... Mágico o bosque.. Silencioso e muito presente ali... Intenso... Fui ate o enorme MOM, o museu do Oscar Niemayer. Fotografei picassos, Dalí,, visitei uma exposição de uma tia chata e egocêntrica “Vieira da Silva” que já tirava “foto de Orkut” em 1924. Tem até marcação na foto...Me vi sozinha num banheiro estranhament grande nesse museu.. É do tamanho de ¼ da casa onde moro agora. Tirei ate foto...Coisas curiosas, encontram-se no MOM.

Conforme o tempo passa, meu esmalte que tive tanto trabalho pra pintar a unha, descasca... Quem olha me vê o relaxo em pessoa. Devia ter fotografado isso...
Não fui visitar lugares famosos de Curitiba. Opera de arame, Jd. Botânico e outras coisas que já vi em fotos, os cartões postais de La. Quis conhecer a cidade de quem mora La. Grana curta, não andei de ônibus. Fora que o dia estava realemnte llindo para caminhar. E como andei, oh céus... Deitei na grama de um parque lindo, um calor medonho, o sol cegando meus olhos, formiga me beliscando, e eu sem poder reclamar, afinal eu era a invasora ali. Mas doeu ein... rs



À noite, um lugar no mínimo curioso. O núcleo das pessoas "diferentes" da cidade, ou de passagem por ela. Gente de todo tipo mesmo. Inclusive eu. Estava diante do bar do Torto (nome dado por causa do Garrincha) O mais interessante ali? Nada. Infinitamente nada. Não tinha onde sentar, onde comer ou beber, não tinha um som rolando, aliás, mal tinha um bar ali, e acredite, estava lotado até o outro lado da rua. Pessoas pegando sua bebida iam sentar na rua, na calçada, ficavam de pé. Patricinhas, malucos, bêbados, felizes, infelizes, heteros, homos, todos ali em harmonia. Cada um com si mesmo, ali observando a vida passar diante deles... Fiquei ali, partilhei meus pensamentos, comigo. No mais profundo silêncio e de certa forma, me encontrei um pouco ali... 

Quero voltar por aquele caminho lindo por onde vim, durante o dia. Vou dormir e sair cedo, fotografar... Até agora ilustro essa viagem com aproximadamente umas 550 fotos. Creio que na volta, mais um tanto desse, afinal o caminho é lindo mesmo. Mal da vontade de ir embora, mas, ainda não sou merecedora da paz que este lugar me proporcionou. O jeito é dormir, acordar, voltar...


A volta



Acordo, a TV está muda. Muita lama,lagrimas e gente misturados. Vim me desligar do mundo, mas o mundo ainda esta “on” La fora de mim. Fui dormir um tanto irritada. Pedi ao marido,quenao me ligasse... ontem, enquanto me evadia de mim frente ao Torto,ele resolveu que ia me ligar aé eu resolver atender. Como esse “prazo” pedi pra mim e não pra ele, desliguei o celular; o que de fato me incomodou MUITO, porque a filhote ficou em São Paulo, como mãe que sou, não posso me dar ao luxo de ficar incomunicável. Esse “não respeitar” esse momento, me deixou de fato aborrecida.

10hs da manhã. Estou na rodoviária de Curitiba. A maioria do transporte aqui tem cores bem vivas. Ônibus vermelhos, verdes, taxis laranja e preto,rssr um barato só. Observo as pessoas na rodoviária. Algumas chegam a ser engraçadas. Uma mulher tentando a todo custo chamar a atenção de um rapaz que estava sentado ao meu lado, uns gringos tentando se entender com o caixa 24hs, uma bibinha que mais parecia uma abelha, irritada, muito irritada com alguém ao celular... Enfim embarco para São Paulo. De volta pra minha terra, Aff... Embarco.  Como vim, volto... Sozinha. Minha bagagem de mão, a mesma, mas a da alma, cheia de coisas boas e novas, fora as partes de mim que reencontrei.

Pensei muito no que fazer daqui pra frente. Descobri muitas coisas. Algumas eu amei a descoberta, outras nem tanto, mas o importante é que de certa forma me achei, me descobri pelo menos um pouco.

Passei muitos, muitos anos sem tempo pra mim. Deixando sempre em função dos outros,algo ou alguém, meus objetivos adormecidos, em segundo, terceiro, ou ultimo plano. Me descobri muito LIVRE e mais CAPAZ do que imaginava ser de fato. Ta certo, grana não é o meu forte, mas é questão de tempo... Quero e preciso fazer meu trabalho. Vou correr atrás. Preciso de gana pra Re e para outras viagens como essa. Preciso muito conhecer muito do mundo. Quem vai à Curitiba com a grana praticamente contada, vai até o fim do mundo com um pouco mais. Minha arte escrita, desenhada e fotografada precisa disso. Preciso de paisagens diferentes, livre como a minha alma para criar... Vejo paisagens lindas da minha janela do assento numero 35 e vi muitas do assento 31 na vinda. Isso me fez bem. O contato com outras pessoas, com outras paisagens me fez bem. Não trouxe radio, mp3, nem o fone do celular. Mas ouvia musica o tempo todo, de dentro pra fora...
As vezes dou de cara comigo. Me assusto como “como sou capaz”, Caracas... Capaz de agir... Preciso dessa LIBERDADE, PRECISO... Porque está em mim. Eu sempre quis ser dona de casa, sempre... Mas meus caminhos e pessoas sempre me decepcionaram, porque não entenderam que o que eu queria era tão simples, tão pouco. Preferiram me ver morrer aos poucos para satisfazer seus egos machistas. Preferiram em prender em ciúmes loucos sem dar conta de que, o que eu pedia, era tão mínimo... Ok, as decepções não chegam a 100%. Vivi atos heróicos até, mas o pouquinho de cada dia de pão que o diabo amassa...Enche, estufa...

Primeiro eu não trabalhava. Depois eu não era homem e era mais amiga que mulher. Depois eu não era a mãe. Em seguida, eu não tinha arte, eu não pagava minhas contas nem sou digna de confiança. O engraçado é que nos 4 casos, eu sempre fui a mesma. Amélia dedicada quando viva,peso morto após a morte de cada amor... Não posso depender de fdp nenhum pra me guiar no sentir. Nasci com a solidão crônica. De fato descobri que estar acompanhada ou não, de verdade, lá no fundo, não faz a menor diferença... Fico triste porque com isso machuco muita gente. Pessoas que amo inclusive. Mas se bem que... Me machucam também, MUITO aliás. Quando a solidão pede companhia e esta não chega, a não ser que a companhia se beneficie de algo. Se nos momentos que mais preciso de fato, não tenho atenção e coisas que preciso... Pra que companhia? Pra me machucar com egoísmos e coisas mal faladas da boca pra fora que ouço da orelha pra dentro? Pra satisfazer o outro? Pra não vê-lo chorar e morrer por dentro eu tenho que me matar e chorar todo dia? Não... Chega... Chega de desculpas, perdões... Se houver como ser de alguém, sendo livre, é ai que me encontro, do contrário não..

Estou de volta ao estado de São Paulo. Trago lembranças doces e interessantes de mim. Quero ser, estar ir e voltar... Sem questionamentos, sem interferências. Tenho só 28 anos. Já tenho quase trinta e nada sei da vida ou do mundo, embora saiba muitas coisas. Muitas mais do que gostaria com certeza... 

Os homens são cruéis com as suas mulheres porque mesmo sendo fortes, as mulheres são apenas como as flores; que La no fundo se perfumam e ficam bonitas ainda que feias, pra agradar a quem ama. Mulheres nascem para colorir e agradar o mundo do homem, que sem cuidado algum a arranca dos galhos, amassa folhas e pétalas, pisa... entoa tornam-se apenas galhos secos e espinhos depois de muito decepcionadas...
É decepcionante ser flor... Decepcionante... E os homens querem as flores, para destruir...
Já são 16:46. To em Taboão da Serra. Ônibus parado, caminho alagado. Temos que esperar baixar a água ou não chegamos ao destino. Muitas águas baixaram dentro de mim, e o que estava submerso veio à superfície da maneira mais intensa que pude ver. Criança pentelhas dentro do busão. Que diferença e Curitiba... Paz... Acho que fui pro lugar certo...
Chego a Sampa, quase sete da noite. Depois de ruas alagadas em Taboão. Cansada. Ainda me resta uma viagem até Arujá onde moro atualmente... Fim de trajeto e inicio de muitas coisas em mim.
Essa viagem serviu para muitas coisas. Algumas se calaram dentro de mim. E mesmo que minta, sei o que são e os porquês. Prefiro que continuem caladas. Outras gritam em mim a cada segundo desde que cheguei. Mas uma coisa eu estou aprendendo com tudo isso. Estar só não é o problema. Muitas vezes é a solução. Em breve estarei publicando essa viagem e outras coisas, ilustradas com suas respectivas fotos. Foram um total de 1048 “clics”. Muitos descartados sim, mas para cada situação aqui descrita, pelo menos uma que ilustre. Aprendam com voces mesmos. Sempre

4 comentários:

  1. Quanta depressão!!!

    Não vai encontrar o que está procurando fora de você, nas coisas ou nas pessoas. Está tudo ai dentro atrás das nuvens que a sua mente criou para esconder o dia de sol que sempre está lá.

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  2. Bom, que eu me lembre o texto fala justamente isso. Não procurei nada fora de mim. Apenas precisei estar sozinha, comigo para pensar em tudo o que fiz e farei daqui pra frente. Nos slugares onde estive, escrevi isso. Quem dera fossse minha mente que tivese criado as tais nuvens, mas enfim, apenas eu sei de mim. Agora mais do que nunca aliás.Mas obrigada pelo comentário e sim... Quanta depressão me prendia a algo que nao era eu... ;)

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  3. Muito, bom Bárbara, este relato da viagem, Adorei! Você é mesmo uma escritora nata, consegui entrar na sua história e fazer a viagem junto com você,Parabéns linda, aliás, só para dar um palpite,faça e junte à sua história, seus cartoons super criativos, vai ficar uma ilustração maravilhosa,bjs!
    Cristiane Muniz

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  4. Ah as ilustrações que faço, sao de um outro livro,rssrr Dessa historia aqui, serao as fotos mesmo. Ja estou selecionando. E farei isso com cada viagem que fizer para dentro de mim, afinal, em cada uma se descobre coisas diferentes e fotos surpreendentes... rsrs bjs

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